o que se desatou num só momento não cabe no infinito, e é fuga e vento" "mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão." Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 18 de abril de 2011
O Outono
O Biólogo da USP Gilberto Kerdauy, descreve, de forma científica, o que acontece nesta estação do ano:
“Trata-se de uma estratégia das plantas para se proteger do frio, reduzindo ao máximo seu gasto de energia. Quando chega o outono e os dias começam a ficar mais curtos, a natureza está sinalizando às árvores que chegou o momento de modificar algumas de suas características.
Com menos luz solar, a primeira alteração é parar de produzir clorofila, a substância responsável pela absorção do gás carbônico e sua transformação em carboidratos, usados na geração de energia para a planta.
Com a diminuição da clorofila, as folhas das árvores tornam-se amareladas ou avermelhadas. A planta começa, então, a produzir um hormônio chamado ácido abscísico. Ele se acumula na base da haste das folhas, o pecíolo, matando as células daquela região.
O pecíolo acaba se rompendo e a folha cai, sem precisar mais ser alimentada pela árvore, que pode, então, usar essa energia para seu próprio aquecimento.”
O verão acabou. Sol, excesso, chuvas torrenciais, exuberâncias, risos, peles queimadas, o deliciar de um sorvete, liberdade, dias longos, estas coisas que o acompanhavam partem ao seu lado.
Saímos pelas ruas, praças e jardins, e o que percebemos é que tudo mudou. As cores, os aromas, a durabilidade dos raios solares. Tudo agora é mais escasso, diminuído. Outono é sinal de mudanças, de perdas.
A sabedoria da natureza capacita as árvores, preparando-as para a grande e mais notável transição; é um momento de perdas e de reelaboração para o inverno.
Eu e você estamos imbuídos neste mesmo processo.
A vida é marcada por estações, por fases, por períodos, por momentos que mudam-se a cada instante.
Às vezes, estamos usufruindo do melhor, onde as coisas acontecem, favoravelmente, conosco. Tudo brilha, sorrimos sem motivos, sobra-se otimismo, casamento em pleno esplendor, filhos destacando-se na vida acadêmica, plenitude na vida profissional, agradável e saudável relação espiritual com Deus, saúde em pleno vigor, produtividade em todos os tipos de relações, e, de repente, desaparece tudo isto.
É o outono que chega sobre nossa acomodada vida.
Vem do nada, como um ladrão na surdina da noite, e arrebata tudo, sem que haja poder para reagirmos ou nos defender.
O outono é a estação das perdas. Perder é “osso”, como diz um amigo meu. O outono é aquele período onde as coisas param de dar certo!
Quando parece que a sorte foge de nossa presença, quando o riso se esconde nos cantos dos lábios, é aquele período quando a aparência se deforma, é quando a esperança que se vestiu de verde esmeralda, recebe tons amarelados, desbotados, e por não suportar mais, cai.
É quando os dias ficam curtos demais, é aquela fase quando a escuridão aparece repentinamente.
Ninguém quer isto. Não projetamos estas perdas, não idealizamos estes desconfortos, não desejamos olhar as folhas verdes se amarelarem, não queremos mudanças, não queremos coisas curtas, não queremos que as folhas caem. Putz, parece uma grande injustiça a chegada do outono! Verão deveria estar ligado à primavera!
Mas não é assim a vida. Verão trás em sua boleia o encardido outono.
Uma luta universal do bem contra o mal, da luz contra as trevas, do prazer contra o desprazer, do verde contra o amarelo, do levantar e do cair, do sorriso e da dor...
Não crescemos na bonança, não evoluímos na prosperidade, não avançamos quando estamos na zona de conforto, por isto Deus permite a chegada do outono.
É um grito divino para nos alertando de que a vida não é só verão, que ela não é uma festa eterna. Outono é um grito que nos faz acordar para o inverno.
É a cigarra daquela conhecida história. Outono é um alerta para que saiamos deste comodismo e nos preparemos para a chegada do frio, da escassez absoluta do inverno. Outono é uma estação para jogarmos fora as folhas velhas daquela relação que deveria ter parado, é tempo para colocarmos um ponto final naquele velho sonho obsoleto, naquele projetinho vagabundo, no amor frívolo que te faz sofrer, naquela situação que te amarra e, paulatinamente, te come por dentro, daquela velha maneira de pensar e sentir, naquele utópico comportamento desagradável.
Outono é uma transição para reformas. Tempo de perder, mas perder para o bem, perder pra evoluir, perder pra se achar. Outono é tempo para aprendermos a não gastar energia com coisas e pessoas que não valem à pena. Outono é tempo para fazermos reservas de energias vitais, é quando a perda se transforma em ganho.
Por Dio Rocha
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