terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Casamento aberto



A instituição casamento não vai acabar, mas vai continuar a fazer muita gente sofrer se não entrarem cláusulas novas no contrato.

Andou circulando pela Internet um texto creditado a Danielle Mitterand, viúva do ex-presidente francês François Mitterand. Pelo teor, acredito que seja mesmo de sua autoria. Quando permitiu que a amante e a filha que ele teve fora do casamento comparecessem aos funerais, Danielle comprou uma briga com a ala mais conservadora da sociedade francesa.

Agora está se defendendo com uma reflexão que serve para todos nós. É sabido que a instituição casamento vem se descredibilizando com o passar do tempo. Hoje, uma relação que dura 20 anos já é candidata a entrar para o Guinness.

Li outro dia uma pesquisa sobre os casais mais "divorciáveis" da atualidade. A tal Paris Hilton era a mais cotada para se separar no primeiro ano de matrimônio - erraram: nem chegou a haver casamento. E fora do mundo das celebridades não é muito diferente. Os pombinhos estão no altar e os amigos, na igreja, já estão fazendo suas apostas para a duração do enlace.

Todo mundo quer casar, adora a idéia, mas poucos ainda acreditam no "felizes para sempre", e não porque sejam cínicos, mas porque conhecem bem o contrato que estão assinando: com exigência de exclusividade vitalícia, ou seja, ninguém entra, ninguém sai. Difícil achar que isso possa dar certo nos dias atuais.

O casamento vai acabar? Nunca, mas vai continuar a fazer muita gente sofrer se não entrarem cláusulas novas neste contrato e se as cabeças não se arejarem. Danielle Mitterrand diz o seguinte: "Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma diferente".

E termina citando sua conterrânea, Simone de Beauvoir: "Temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida".

Estamos falando de casamento aberto, sim, mas não deste casamento escancarado e vulgar, onde todos se expõem, machucam-se e acabam ainda mais frustrados. Casamento aberto é outra coisa, e pode inclusive ser monogâmico e muito feliz. A abertura é mental, não precisa ser sexual.

É entender que com possessão não se chegará muito longe.

É amar o outro nas suas fragilidades e incertezas.

É aceitar que uma união é para trazer alegria e cumplicidade, e não sufocamento e repressão.

É ter noção de que a cada idade estamos um pouquinho transformados, com anseios e expectativas bem diferentes das que tínhamos quando casamos, e quem nos ama de verdade vai procurar entender isso, e não lutar contra.

Sendo abertos neste sentido, o casal construirá uma relação que seja plena e feliz para eles mesmos, e não para a torcida.

E o que eles sofrerem, aceitarem, negociarem ou rejeitarem terá como único intento o crescimento de ambos como seres individuais que são.

Enquanto não renovarmos nossa idéia de romantismo, continuaremos a bagunçar aquilo que foi feito apenas para dar prazer: duas pessoas vivendo juntas.

Eu não conheço nada mais difícil, mas também nada mais bonito. E a beleza nunca está nas mesquinharias e infantilidades. A beleza está sempre um degrau acima.

Martha Medeiros

Simone de Beauvoir




imagens google

"Vivemos amores necessários e contingentes. Embora o primeiro seja o caminho, o repouso e o segundo vibração e êxtase; ao louvar os amores necessários que tive, não posso esquecer dos outros, que passaram na sombra, mas que nunca deixaram de viver em mim".

Simone de Beauvoir,

escritora, FRA, 1908-1986

domingo, 16 de janeiro de 2011

Mulheres

Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas.



São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido.

Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?



E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!

"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça....." Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado.O sexto-sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus!

Assim é muito fácil... As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal? E não satisfeitas em gerar a vida, elas insistem em ensinar a vivê- la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"... Tudo isso é meio mágico.Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).



As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens.É choro feminino. É choro de mulher...



Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma a outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos...Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens. En-fei-ti-çam!



E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas... Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa área. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama se aproxima de Deus. E com as mulheres também é assim. O amor as leva para perto dele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.

É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.

Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.

Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam.



Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora...





Luis Fernando Verissimo

sábado, 15 de janeiro de 2011

A pior vontade de viver

A pior vontade de viver, de Martha Medeiros

Todos são tão compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo o que você faz, não é mesmo? Desde que você faça o que está no script. Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante mesmo em que você nasceu. Mas e quem não quiser seguir este script?

Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais, morreu há 30 anos e recebeu uma justa homenagem na última terça-feira, no Teatro Renascença, numa performance dirigida pelo incansável Luciano Alabarse e para o qual fui convidada, mas não pude participar. Em função deste evento, estive pensando muito em Clarice e lembrei de como ela descreveu, certa vez, o sentimento de um personagem: "Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver".

Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa. Ela, a pior vontade de viver. A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.

No entanto, esta que foi chamada de a "pior" vontade pode ser também uma vontade genuína e inocente. É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada. É o desejo de açúcar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos. A "pior" vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido. A "pior" vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não render-se às vontades fixas, apenas às vontades momentâneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se transformarem em vaidade - como se sabe, há sempre aqueles que se envaidecem da própria persistência.

A "pior" vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada. A "pior" vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada. É quando você sabe que não deveria, mas vai. Sabe que não será fácil, mas enfrenta. Sabe que tomarão como agressão, mas arrisca. Anote: apenas sentem-se agredidos aqueles que te invejam.

A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública. É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a "pior" vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo - ou seja, tudo.

É com esta "pior" vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante. É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir à tona esta que Clarice Lispector chamou de a pior vontade de viver, que, secretamente, é a melhor

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Drummond

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ne me quitte pas


Composição: Jacques Brel

Ne Me Quitte Pas
Ne me quitte pas, Il faut oublier,
tout peut s'oublier qui s'enfuit deja.
Oublier le temps des malentendus
et le temps perdu a savoir comment.
Oublier ces heures qui tuaient parfois a coups de pourquoi
le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Se puder sem medo


foto: Nice Lima - FestNatal Araxá, MG


Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

composição: Oswaldo Montenegro

Todo mundo é lobo por dentro


Foto: Jorge Mourão - FestNatal em Araxá, MG maravilhooooooooooso



Você me disse que eu sou petulante, né?
acho que sou sim, viu?
como a água que desce a cachoeira
e não pergunta se pode passar
você me disse que meu olho é duro como faca
acho que é sim, viu?
como é duro o tronco da mangueira
onde você precisa se encostar
você me disse que eu destruo sempre
a sua mais romântica ilusão
e destruo sempre com minha palavra
o que me incomodou
acho que é sim
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?

composição: Oswaldo Montenegro

Estrelas - Oswaldo Montegro

Pela marca que nos deixa
A ausência de som que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão nos bares
Que a gente frequenta
Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira
A sua fantasia
E é como se fosse pouca
E sua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo o que eu cantaria
E quando eu for embora, você cantará

domingo, 9 de janeiro de 2011

Aí tem

As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha, só isso." Só isso???? Aí tem.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso". Só isso????? Aí tem.

Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.

Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente?

É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem.

Martha Medeiros

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ana Jácomo


Não tenho me preocupado muito em saber para onde vou,
como durante tanto tempo eu me preocupei.
Curiosamente, experimento uma confiança
de estar seguindo na direção do caminho que é meu,
como nunca antes eu senti.
Não há grandes acontecimentos que sinalizem isso.
Apenas sinto.
Apenas confio.”




(Ana Jacomo)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Cativar


Que quer dizer "cativar"?

__É uma coisa muito esquecida,disse a raposa.Significa "criar laços...".

__Criar laços?

__Exatamente,disse a raposa.Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual

a cem mil outros garotos.E eu não tenho necessidade de ti.E tu não tens necessidade de mim.

Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas.

Mas se tu me cativas,nós teremos necessidade um do outro.Serás para mim único no mundo.

E eu serei para ti única no mundo...

Ana Jácomo

"...Não sei exatamente em que momento comecei a despertar.
Só sei que comecei a desejar menos entender de onde vim e a desejar mais
aprender a estar aqui a cada agora.
Só sei que descobri que a solidão é estar longe da própria alma.
Que ninguém pode nos ferir sem a nossa cumplicidade.
Que, sem que a gente perceba, estamos o tempo todo criando o que vivemos.
Que o nosso menor gesto toca toda a vida porque nada está separado.
Que a fé é uma palavra curta que arrumamos para denominar essa amplidão que é o nosso próprio poder..."

questão de índole

Faça pequenas coisas hoje, e grandes coisas lhe serão confiadas mais tarde.